A dengue exige atenção máxima à hidratação: a médica prescreveu 4 litros por dia, entre água e isotônico; o blogue do Drauzio Varela, no artigo sobre dengue, fala em 6,4 litros. O dedo quebrado do pé esquerdo ainda exige cuidados: sandália ortopédica (que eu não tenho usado), gelo três vezes ao dia (que eu não tenho aplicado). A Casatrês, com três feiras em vista nas próximas semanas, exige confecção de estoque: 8 exemplares de Retalhos, 12 exemplares de a casa que ela habita, 10 exemplares de Chama com dois olhos andando. E assim vai. E eu com o pé quebrado. Grogue de dengue — moroso, raciocínio lento, irritadiço.
Vou mandar uma mensagem no WhatsApp e mal dou conta: como é difícil escrever qualquer coisa, responder perguntas, me despedir. Demorei três minutos para encontrar o botão das figurinhas — simplesmente não o encontrava. E me irritei. E me cocei inteiro. Há duas noites durmo um sono inflamado e histérico porque estou sendo assolado por um dos sintomas mais humilhantes da dengue: vermelhidão e coceira insuportável por todo o corpo.
Cuidados com o pé quebrado. Cuidados com a dengue. Livros para fazer. Meu receio é, de repente, sair da casinha, bater a nave de vez, embaralhar a ordem das funções e começar a pingar dipirona nos livros, dar isotônico para a impressora, pôr a bolsa de gelo de repouso sobre a cama. Daí Marília pergunta: “Por que a impressora não está ligando?” O cheiro artificial de limão no ar.
(Marília, obrigado por todos os cuidados, meu amor. Minha versão de jovem inválido foi mais uma grande prova do seu amor.)
Já é outono e, segundo uma amiga, a chegada do outono não poupa ninguém. Nunca havia pensado que o fim do verão pudesse acarretar problemas na vida de uma pessoa — problemas maiores que a própria existência do verão no seus dias mais bárbaros. Já é outono e o ano corre. E eu me quebro, me coço e tento fazer livros.
Aliás, me despeço porque preciso me coçar; e, mais que me coçar, preciso me hidratar. Coçado e hidratado (hoje deve ser o último dia dos sintomas de coceira), vou confeccionar livros. Antes de me despedir desta estranha niusleter, faço o lembrete que, afinal, é a razão deste e-mail.
Às amizades de Floripa, a Casatrês estará presente, pela primeira vez, no Ceart Aberto, tradicional evento que acontece na UDESC. Será no sábado, 15, a partir das 13h.
Nos vemos lá, de sandália ortopédica e, espero, com a pele calma e a mente afiada para a literatura.