Há duas semanas, quando estava saindo da aula de capoeira, o Moreno me ligou.
Você pode vir pra casa? Acho que quebrei o dedo.
Pedalei o mais rápido que pude, pensando, Como ele vai fazer para escrever? E costurar, encadernar, cozinhar…
Encontrei-o mancando: era o dedo do pé. Um chute bem defendido com o antebraço na aula de caratê.
Fomos para o hospital e tomamos um chá de cadeira de seis horas. Que frio fazia lá dentro, como deve ser ruim esperar um atendimento com cólica renal naquele ar condicionado. Dormimos em posições inimagináveis nas cadeiras das salas de espera, ao som de gemidos de gente doente, ambulâncias e um filme violento da Tela Quente. Foi nessa madrugada que fiquei sabendo do mais novo e desesperador relatório do IPCC, em algum jornal que passou incrivelmente tarde. Também conheci uma senhora que tinha vindo do outro lado da cidade para esperar atendimento por duas horas, só para descobrir, numa consulta de um minuto, que não poderia ser atendida ali. E vi gente brigando com a família porque estava cansada de esperar e os ânimos ficam exaltados quando se está com fome num ambiente insalubre e triste.
O dedo estava quebrado, mesmo, como descobrimos às 4:30 da manhã, depois de um último cochilo nas cadeiras da ala ortopédica. Foi uma fratura leve no segundo metatarso. Conseguimos uma sandália imobilizadora de segunda mão na OLX.
Não bastasse a dificuldade de mobilidade, a ausência do caratê e as dores no corpo todo por andar mancando, Moreno está com sintomas de dengue desde ontem.
Por isso, o que temos para nossos/as leitores/as hoje é isto. Pensamos em não enviar nada, mas não queríamos quebrar a periodicidade dos nossos e-mails. Então viemos aqui para dizer que hoje não vai ter niusleter.
Abraços febris e até semana que vem