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O galo (e as calopsitas) dentro de um quarto-ateliê
A Casatrês ressurge em novo endereço e nova configuração: um editor-artesão-faz tudo e duas calopsitas. Nova aurora e mesmo (ou quase mesmo) rumo
Após dois meses sem aparições nas redes, a Casatrês ressurge em nova configuração. Com exceção das pessoas que já sabiam antes deste comunicado, imagino que o restante se sentirá surpreso em descobrir que, agora, essa pequena editora de livros, artesanal e caseira, indo para quatro anos de história, terá apenas eu, Felipe, como editor-artesão-faz-tudo.
Formal e burocraticamente só, talvez, mas jamais no cotidiano de trabalho, pois seria impossível. As amizades de sempre, de Floripa e outras regiões, gente que escreve e de outras expressões artísticas, estarão sempre convidadas (no aperto, convocadas, rs) às novas parcerias e aproximações de trabalho e afeto. (E agradeço a cada uma delas que, nesse processo de transição, me apoiou e depositou ânimo para continuar.)
Marília seguirá novos rumos, tocará outros projetos. A decisão e o processo não foram fáceis, mas sem turbulência a vida corre risco de empacar. Galo forte e persistente (talvez um pouco despenado — e perdão pela piada chula, mas também elas me salvam nos momentos de crise), a Casatrês se reinventa em seu terceiro endereço. Mais diminuta, compacta em dimensões físicas, a editora está instalada dentro do meu próprio quarto, um quarto-ateliê que foi montado, com suor e capricho, durante as últimas semanas.
Reduzir espacialmente não é, obviamente, problema para esta minieditora que louva o pequeno e o frugal. Portanto, visões e anseios seguem no mesmo tom, em mesmo prumo: livros feitos com as mãos, em pequenas tiragens; literatura frugal e não convencional; estética da impermanência, imperfeição, rusticidade; textos rentes ao chão, aceno a ideias incivilizadas, texturas de terra, sabor de haicai, gambiarras literárias e afins.
Casatrês e contingências
Na próxima terça, 29, completo cinco anos de vivência em Florianópolis. Ingênuo ou arrogante em crer que os planos pessoais estão acima das contingências do tempo, do espaço e das relações, vim com o intuito de ficar seis meses, juntar dinheiro rápido (vendendo kumbayá na praia durante o verão) e seguir com uma viagem de mochilão. A Ilha me abraçou, me envolveu, e, quando me dei conta, tarde demais: eu era só mais um paulista encantado, pés fincados nesse solo arenoso, pele arejada pelos ventos úmidos desse clima subtropical, olhos cintilantes diante de tanta beleza, ternura e simplicidade, cantando as maravilhas deste lugar.
Minha vida na capital catarinense se confunde com um processo de perdas e ganhos em mesma medida. Quando cheguei aqui, ainda ouvia o eco do luto abissal: a perda do meu pai. Em pouco tempo fui me estabelecendo, me consolidando, conquistando coisas, material e emocionalmente. A idealização e materialização da Casatrês, sem dúvida, representa o maior ganho. A Casatrês é fruto da Ilha, está implicada com este território como um pescador com seu rancho à beira do mar.
No entanto, digo que foram as perdas que, contraditoriamente, melhor me proveram: perder amigos e amores, perder alguns sonhos e esperanças, ser despossuído de determinadas projeções, enfim, serviram para me desinflar e arrancar, do âmago, certas ansiedades. A perda é o dom da desilusão, e a desilusão, se acolhida sem pavor, é o preparo da maturidade.
Coisas e caminhos fogem do controle. A dor e a angústia dão as caras. Então parece haver a oportunidade de deixar a dor e a angústia cumprirem o cálculo dessa difícil equação. O resultado, negativo, lugar de vazio, é um terreno desentulhado onde passarão novos ares e sonhos. O imprescindível, mesmo, é ter pés bem firmes em algum chão. Ou manhã fresca para o galo continuar a cantar, terra boa para continuar a ciscar. Nova aurora e retomada de rumos.
Menções finais
Em setembro, a Casatrês vai ao Rio de Janeiro, presença na aclamada Feira Tijuana, em sua 25ª edição. Outubro: Feira Estopim, Curitiba, pelo segundo ano seguido, e lançamento bombástico, aqui em Florianópolis.
O galo forte e persistente, símbolo da editora, não poderia vir desacompanhado de Neide Raquel e Nelson Rodrigo, as calopsitas que também são patrimônio do projeto.