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O mundo precisa de mais um livro?
Um texto escrito por kuzman, autor de água de romãs; e convite para um rolê no sábado
Por kuzman, em
Costumo me perguntar se o mundo precisa de mais um livro e, se precisa, porque esse livro seria o meu? Se todas as perguntas que importam já foram feitas, se a história não passa de uma série de tentativas de respostas que se deram a elas, se cada um deve buscar as suas próprias respostas por si, porque minhas respostas, aplicadas a minha pequena vida, deveriam importunar os outros? Se essa vontade de me apresentar ao mundo como escritor não passa de puro ego, se o que lançar para o mundo vai ser bem ou mal interpretado por quem ler e soberanamente tirar suas conclusões, pertinentes ou não, quem o pode dizer?
Então, eu me pego a escrever uma palavra atrás da outra, brincando com sons e sentidos, determinando ou indefinindo sujeitos, caçando adjetivos inesperados. A dúvida só é ruim quando paralisa. A dúvida que mantém a gente alerta, para viver com a cabeça em chamas, essa aí só alimenta a escrita...
Gostaria apenas escrever um bom poema, contar uma boa história, dizer uma frase ou mesmo palavra que acenda algo e marque quem a ler. Se conseguir isso, eu me digo, me dou por realizado.
Aí vem a dúvida: “como saber se você conseguiu realizar essa minúscula proeza?”. Não dá para saber. É continuar tentando…
Em 6 de maio lancei meu segundo livro de haicais, água de romãs, pela editora Casatrês, do maravilhoso casal Felipe Moreno e Marília Jacques, com prefácio do amigo Carlos Martins, exímio e gentil mestre haijin.
A data coincidiu com a metade do outono que, na minha opinião de candango por adoção, é a melhor época do ano para estar ao ar livre no Planalto Central (a seca ainda não se instalou, o sol ilumina sem nos deixar esturricados).
O local não poderia ter sido mais candango — a Galeria dos Estados, durante a 10ª edição da MOTIM, já tradicional feira colaborativa de arte impressa que reuniu gente de todo país no coração desta sexagenária cidade que nos maravilha e exaspera em diversas e ambíguas medidas.
Vi rostos amigos e abracei pessoas que me acompanham (me suportam, me apoiam, me alegram) há muitos anos e me deram a felicidade de dedicar algumas palavrinhas de gratidão. A gente que passa horas escrevendo percebe nessas horas que nunca esteve sozinho, que nunca teria escrito sem essas pessoas que nos preenchem a vida.
O livrim reúne 138 haicais escritos durante a pandemia. Há desde haicais tradicionais, da vertente trazida pela comunidade de imigrantes japoneses aclimatados ao planalto, até os mais livres, sem apego a regras de composição formal.
É o terceiro volume da coleção haimi, criada pela Casatrês para acolher obras poéticas com o “sabor de haicai”. Há todo um capricho na composição de cada exemplar, produzido de forma artesanal, com capa carimbada e costurada manualmente.
Rolê de sábado: Instituto Muhda e Casatrês
As parcerias e as redes são o que fortificam e dão sentido ao nosso trabalho e a Casatrês tem o privilégio de estar ao lado de pessoas e projetos valiosos. Assim, nos estreitamos cada vez mais com o Instituto Muhda, organização socioambiental sediada em Florianópolis.
À frente do Muhda, nossos amigos Rodrigo Reis e Anna Viana dedicam-se, com total amor e empenho, a projetos de estímulo a diferentes autonomias de populações vulnerabilizadas, atuando em defesa da soberania alimentar e pela regeneração do meio ambiente.
No próximo sábado, 10 de junho, o compromisso do Instituto Muhda é com a arte e a cultura, na cervejaria Bugio, centro de Florianópolis, onde teremos exposição de peças artísticas criadas a partir de tingimento natural e pinturas em tecido; e também uma pequena feira de artesanato Guarani e produtos agroecológicos do MST, com a presença de lideranças indígenas e assentadas. Na rua, a céu aberto, previsão de tempo bom e azul, lá também estaremos com nossos livros e cadernos.
Repetindo, para pôr na agenda: sábado, 10 de junho, a partir das 12h, na rua Victor Meirelles, Centro de Florianópolis, em dia de cores e trocas, celebração e união. Nos vemos lá!
O mundo precisa de mais um livro?
maior orgulho de fazer parte dessa empreitada zen-ecoeditorial! obrigado, pessoal!