Frugal, segundo o dicionário, quer dizer concernente a frutos, que se alimenta de frutos (de fácil digestão, leve, ligeiro), que se alimenta com moderação; que se contenta com pouco, que é moderado, sóbrio, simples.
Pensamos numa literatura frugal: a escrita e a leitura com o tom e o sabor da despretensão, da naturalidade, espontaneidade — isto é, a palavra “in natura”, crua. Aquém do pedestal, desviada dos gêneros convencionais (romance, conto). Uma forma de escrever e ler que está próxima de uma anotação, num caderno e diário íntimo, um rascunho — e isso não quer dizer que não deva ser um texto escrito e reescrito, revisado, lapidado.
Recriar o mundo cotidiano, simples e banal, no presente, de maneira direta, sucinta, destituída da necessidade de fórmulas narrativas, de técnicas de criação de enredo, personagens. Escrever e ler passagens, a captura do momento vivido; escrever e ler minúcias, curiosidades ínfimas, dúvidas preciosas, clarões elementares. Ler e escrever a gente comum, a vida comum. Enfim, uma literatura da crônica para baixo.
Daí, então, a explosão de possibilidades, que o enquadramento dos gêneros convencionais, a alta pretensão literária, a pompa, não podem e não querem abarcar. A literatura frugal quer praticar o haicai, o haibun, a mininarrativa, o aforismo, a crônica, a minicrônica, a frase, o rabisco, a mistura de todas essas coisas.
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Literatura frugal